Essa entidade chamada consumidor.
Sempre me fascinou o fenômeno que se renova a cada manhã, quando as pessoas acordam, iniciam um novo dia, e assumem a sua condição de profissionais.
É curioso como, inconscientemente, vemos o mundo de maneira diferente durante o exercício da nossa atividade profissional, se comparado a quando estamos fora do trabalho.
Quando pessoa física, olhamos para os outros como “gente como a gente”, vemos pessoas que poderiam ser nossos filhos, pais, avós, primos, vizinhos, colegas do futebol, amigas de longa data. No entanto basta passar para pessoa jurídica, para percebermos o outro como o consumidor, o cliente, o freguês.
Essa transformação altera a nossa capacidade de entender as carências, identificar o que é realmente importante para o outro, pensar em como gostariam de ser tratados, quais soluções são realmente valiosas para as suas vidas.
Quando falamos de gente para gente, somos naturais, autênticos, próximos, simpáticos, humanos.
Quando falamos de pessoa jurídica para consumidores, ficamos formais, distantes, a relação se plastifica, o comportamento se assemelha mais com uma encenação do que com uma relação verdadeira e espontânea.
Quando gente pensa em gente, consegue entender suas necessidades, sua relação com o mundo, suas inseguranças, sonhos, e, por isso, cria serviços e produtos, com os quais as pessoas se identificam e desejam.
Quando pessoa jurídica pensa em consumidor, constrói modelos de comportamento idealizados, desenvolve manuais de hábitos de consumo, cria simulacros de vida.
É preciso deixar de lado as fórmulas que classificam as pessoas, em tribos, clusters, por gerações X, Y, Z, pela categoria dos inseguros, dos modernos, dos despojados, ou outra terminologia estranha.
Não se pode tratar gente como se fosse objeto de estudo em laboratórios, está na hora de pôr mais sentimento humano na forma de pensar, falar, atender, entender, o outro.
Alguém conhece quem tenha vindo ao mundo com crachá? Ou tenha em sua certidão de nascimento “consumidor “como sobrenome?
Somos todos nós gente, seres da mesma espécie que gostam de rir, de confraternizar, de uma atenção verdadeira, de perceber que alguém pensou em nós como se fossemos da sua família, um amigo ou amiga, alguém por quem se tem carinho, afeto.
O cliente, o freguês, o consumidor, o usuário, não existe, assim como pessoa jurídica deveria existir apenas como CNPJ, ou você conhece algo mais nonsense do que uma pessoa que é jurídica?